Em dezembro passado eu tive a honra de ir a Washington para participar da fase final de seleção dos vencedores do desafio de inovação da National Geographic – Ocean Plastics Innovation Challenge, na categoria de Economia Circular.
Já contei um pouco sobre os 24 finalistas do desafio neste post do ano passado.
Agora, como prometido, venho divulgar quais foram os 7 projetos vencedores do Ocean Plastics Innovation Challenge!
Vencedores do desafio de inovação da National Geographic na categoria Economia Circular
Grand Prize
O Grand Prize da categoria Economia Circular foi para a Algramo, do Chile! Uma grande alegria ver um projeto da América do Sul se destacar tanto num concurso internacional desse escopo. Mas pra mim também não foi nenhuma surpresa…
Porque faz tempo que a gente vem acompanhando a trajetória brilhante da Algramo. Mais especificamente desde que eles foram finalistas, e depois vencedores, do desafio da OpenIDEO de 2017, que a gente divulgou na época aqui no blog da Ideia Circular.
E porque a Léa tinha acabado de participar da seleção das equipes vencedoras de outro desafio – o SOLVE, do MIT, em que a Algramo também se destacou.
Para quem ainda não ouviu a gente falar sobre eles, a Algramo desenvolveu um sistema muito inovador de distribuição de alimentos a granel. Esse sistema usa a Internet das Coisas para conectar mais de 2.000 máquinas de venda instaladas em armazéns familiares nas periferias de Santiago. Assim, consumidores com baixo poder aquisitivo podem “recarregar” suas embalagens com a quantidade desejada. E com isso não apenas reduzem o desperdício, mas também economizam de 30 a 40% no preço de itens básicos de alimentação e limpeza. Ou seja: um projeto circular, com efeitos positivos sociais, econômicos e ambientais.
O projeto já funciona há mais de 6 anos, e está em um momento de grande expansão, não só geográfica mas também de estratégia e parcerias.
Depois do anúncio do prêmio, entrevistei o Jose Manuel em primeira mão, no dia seguinte à divulgação dos resultados do desafio de inovação da National Geographic. Na entrevista, ele me explicou em mais detalhes como o sistema funciona, quais são os maiores desafios e planos para o futuro. Vamos compartilhar essa conversa nas próximas semanas aqui no blog! (quer que a gente te avise quando ela for publicada?)
Outros vencedores
Os dois prêmios de segundo lugar ou, como dizem os americanos, “runner-ups”, foram para os projetos Kecipir e Returnity.
A Kecipir é uma iniciativa da Indonesia que conecta produtores rurais a consumidores urbanos através de um aplicativo online, garantindo alimentação fresca, saudável e orgânica, e um pagamento justo para os produtores. Todo o sistema de embalagem e transporte é feito sem o uso de plásticos descartáveis. Além disso, o sistema permite uma grande redução do desperdício alimentar.
Isso porque a oferta no aplicativo é feita baseada na predição de colheita dos produtores associados. E, por sua vez, a colheita é realizada a partir dos pedidos realizados pelos consumidores urbanos. Dessa forma, elimina-se a necessidade de armazenamento, e consequentemente de embalagens plásticas, já que os produtos estão recém-colhidos no momento da entrega.
Já a Returnity aborda o desperdício no envio de produtos, especialmente no mercado norteamericano, em que o e-commerce gera toneladas de resíduos de caixas de papelão e plásticos não-recicláveis. A empresa desenvolve embalagens de envio retornáveis, reutilizáveis por um mínimo de 40 vezes, criadas sob medida para outras empresas. O foco atual é no mercado de aluguel de roupas e outros serviços que preveem o envio de volta por parte do usuário. Mas os planos de futuro envolvem ações colaborativas, envolvendo empresas, correios e consumidores, para “atacar” o problema do envio de mão única de empresas de e-commerce como a Amazon.
Vencedores do desafio de inovação da National Geographic na categoria Design
Grand Prize
Na categoria Design, o vencedor do Grand Prize foi a Qwarzo, uma empresa franco-italiana. Criada para desenvolver soluções para a poluição plástica, a Qwarzo hoje em dia conta com dois produtos. Um deles é o Qwarzo stratum, uma cobertura a base de sílica que adere a qualquer material, criando uma camada resistente a água, gordura e fogo. O outro é o Qwarzo solid, que tem as mesmas propriedades mas pode ser termoformado ou injetado, substituindo itens plásticos como colheres ou tampas descartáveis. Ambos são 100% compostáveis, 100% recicláveis (como papel) e, inclusive, comestíveis.
Como eu não participei da seleção dos projetos da categoria de design nesse desafio de inovação da National Geographic, fiquei muito curiosa para sabe mais sobre essa tecnologia. Infelizmente, não deu tempo de entrevistar o Manuel Milliery, fundador e presidente da Qwarzo, lá em Washington. Mas fiquei em contato com ele para marcar essa conversa e compartilhar aqui no blog mais detalhes sobre os produtos e a trajetória da empresa.
Outras vencedoras
Em compensação, conversei longamente com a Anitha Shankar, fundadora da Astu Eco, e com a Deby Fapyane e Isabel Alvarez-Martos, criadoras do Ecoflexy, sobre os seus projetos, que foram vencedores dos dois segundos lugares na categoria de design do desafio de inovação da National Geographic. Em breve você confere essas entrevistas editadas aqui no blog!
A Astu Eco, baseada na India, desenvolve embalagens 100% naturais e biodegradáveis a partir da palmeira Areca. Sua produção não envolve nenhuma cola ou produto sintético. Ainda por cima, pode ser usada na geladeira, freezer e microondas, substituindo embalagens plásticas.
Já o Ecoflexy é um produto da Cellugy, start-up fundada na Dinamarca pelas cientistas Deby Fapyane, da Indonesia, e Isabel Alvarez-Martos, da Espanha. Ao longo dos últimos anos, elas vêm desenvolvendo essa tecnologia para criar um filme de biocelulose a partir da fermentação de restos de frutas e vegetais. O filme pode substituir o plástico em várias aplicações, sozinho ou para fortalecer e impermeabilizar embalagens de papel. Ele é 100% reciclável ou compostável em temperatura ambiente.
Vencedoras do desafio de inovação da National Geographic na categoria Visualização de Dados
O grande prêmio dessa categoria, selecionado internamente pela própria National Geographic, foi para o projeto #PerpetualPlastic. A iniciativa é liderada por Liina Klauss e Skye Morét, que usam sandálias e outros lixos plásticos recolhidos das praias de Bali, na Indonésia, para criar esculturas multicoloridas chamando atenção para o destino desse tipo de resíduos.
O projeto cria obras de grande impacto visual, meticulosamente planejadas, a partir do trabalho que fez Liina Klauss se nomear como “curadora de praias” (beach curator), além de artista e ativista.
Júri
Além da alegria de conhecer tantos projetos incríveis e ouvir pessoalmente dos seus fundadores… Conhecer e trocar opiniões com os outros membros do júri foi uma honra à parte.
Tive a oportunidade de conhecer pessoalmente a Sophie Thomas, da Inglaterra, que já acompanhava desde seu trabalho no Great Recovery Project, desenvolvido pela RSA entre 2012 e 2016.
Foi uma alegria também dividir a responsabilidade de selecionar os vencedores da categoria de economia circular com Graham Hillier (UK), April Crow (US), Brajesh Dubey (India) e José Alejandro Martínez (Colombia).
Quer saber mais?
Este post foi para compartilhar os resultados assim por cima, mas pode esperar que logo voltamos com mais detalhes sobre os projetos. E não só os vencedores! Porque cada um deles merece um post aprofundando os méritos e potenciais dos muitos caminhos bonitos possíveis que vêm sendo trilhados pelo mundo afora…
Por que esse desafio de inovação não é só da National Geographic… Repensar os nossos sistemas industriais e sociais para eliminar a poluição plástica é um dos grandes desafios da nossa geração! E a gente criou a Ideia Circular justamente para apoiar e inspirar quem quer fazer parte desse movimento.
Em breve vamos abrir uma nova turma do treinamento online Economia Circular: Entenda, Desenhe, Transforme, que vem formando profissionais e empreendedores de todo o Brasil com um mergulho teórico e prático na economia circular inspirada pela metodologia Cradle to Cradle.
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Nos vemos logo, por lá ou por aqui!
Se quiser, deixa aqui nos comentários sua opinião sobre os projetos? O que mais você gostaria de saber sobre cada um deles?