Downcycle ou subciclagem é um processo de reciclagem no qual a qualidade dos materiais que compõem um produto é depreciada. Em outras palavras, a reutilização dos materiais ocorre com perda de propriedades técnicas originais. Por exemplo, os metais, que costumam ser valiosos na linha de produção, são em grande medida reciclados dessa forma.
No livro “Cradle to Cradle: criar e reciclar ilimitadamente”, os autores Michael Braungart e William McDonough mostram que o aço de alta qualidade usado em automóveis é reciclado por meio do downcycle. Ao ser derretido com outras partes do carro, como cobre dos cabos e revestimento de tinta e de plástico, esse aço de característica nobre perde qualidade, deixando de ter as propriedades necessárias para a construção de novos carros.
Ao mesmo tempo, metais raros como cobre, manganês e cromo, além de tintas e plásticos, que tinham valor quando não misturados, ou seja, em estado de alta qualidade, são perdidos.
O downcycle, apesar de importante para a minimização de impactos do sistema atual de produção, está na contramão do que defende a economia circular, que objetiva criar novos modelos de produção capazes de reduzir a dependência de matérias-primas e eliminar o descarte final de resíduos.
Para que isso seja possível, os materiais precisam circular o máximo possível nas cadeias de suprimento, mantendo suas propriedades técnicas originais. Ainda sobre a indústria automotiva, se o aço de qualidade mantivesse suas condições originais, as empresas que atuam nesse mercado reduziriam sua dependência do mercado de commodities, cujos preços flutuam bastante de forma geral.
Na economia linear, aquela em que estamos inseridos, a reciclagem de produtos e materiais em geral é feita de acordo com o pensamento de downcycle. Após processados fisicamente e quimicamente, os resíduos são reinseridos em cadeias produtivas, mas com propriedades inferiores às originais. Ou seja, passam a ser ou fazer parte de um novo produto, impossibilitando que volte ao seu estado original.
Pegue como exemplo o concreto, que se torna pavimento de estrada depois de ser misturado com cimento asfáltico e agregados de vários tamanhos, perdendo assim suas características originais.
Veja abaixo outros exemplos de downcycle.
Telha de Tetra Pak
As embalagens de Tetra Pak usadas para armazenar alimentos, como o leite, têm sido encaminhadas para a produção de telhas ou placas para a construção civil.
No processo, são necessárias duas mil embalagens para fazer uma telha, e para isso retiram-se, em primeiro lugar, as partes de papelão da embalagem. Separar o alumínio do plástico ou do papel é atividade difícil. O material resultante, que origina a telha, é uma folha de alumínio e polietileno conjugados, materiais que ficam impedidos de serem dissociados e de regressarem aos seus ciclos originais.
Essa é uma solução pós-design, ou seja, o produto – no caso, a embalagem de Tetra Pak – não é pensado originalmente para que seus materiais sejam reaproveitados ou reciclados.
Papel branco
A subciclagem aumenta a contaminação da biosfera porque utiliza ainda mais química tóxica aos seres humanos e ao meio ambiente.
O papel evidencia esse problema porque requer branqueamento extensivo e outros processos químicos para voltar a ficar branco.
Esses processos podem gerar como subproduto a dioxina, que é um químico cancerígeno listado pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA na sigla em inglês) como o mais tóxico de todos os produtos químicos.
Roupa
Já usou roupa feita de fibra de garrafa plástica reciclada? Sugerimos que não faça isso. As fibras contêm toxinas como antimônio, que jamais foram projetadas para estar próximas ou em contato com a pele humana. Além disso, o tecido resultante da mistura de PET com algodão não pode ser reciclado como o PET, nem compostado como o algodão, impossibilitando a circularidade dos materiais originais ou novos ciclos de uso após o primeiro reaproveitamento.
Na próxima semana, falaremos sobre o processo inverso, o upcycle, que faz parte da economia circular. Você perceberá como esse processo de reaproveitamento mantém ou aumenta o valor do material empregado no ciclo produtivo.
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