O reaproveitamento do plástico é um dos desafios mais complexos em um mundo acostumado a descartá-lo de forma inapropriada.
O estudo “A Nova Economia do Plástico: Repensando o Futuro do Plástico”, produzido pelo Fórum Econômico Mundial, pela Fundação Ellen MacArthur e pela consultoria McKinsey & Company, descobriu que, globalmente, apenas 14% das embalagens plásticas são recolhidas para reúso e reciclagem. Outros 40% vão para aterros, 14% são incineradas e 32% ‘vazam’ do sistema e contaminam solos e mares. A cada ano, valor entre 80 bilhões e 120 bilhões de dólares é perdido por causa do não reaproveitamento do plástico.
Segundo o relatório, caso essa situação prossiga, em 2050 haverá mais plástico do que peixes nos oceanos (levando em conta o peso). Outras pesquisas, aliás, apontam para a presença do microplástico – partículas medindo menos de cinco milímetros – nos oceanos, no solo, no ar, nos lagos e nos rios. Uma das mais recentes destacou que o microplástico consumido – na água engarrafada, por exemplo – fica alojado no corpo humano antes de ser eliminado no meio ambiente. Em resposta a essa situação, empresas como a Coca-Cola estão revendo seus negócios para disponibilizar embalagens retornáveis.
É muito fácil compreender por que o plástico está tão presente no nosso dia a dia. Suas propriedades são muito importantes para a indústria, que gasta pouco para produzi-lo. Nos últimos cinquenta anos, sua produção aumentou vinte vezes. Há uma verdadeira dependência da economia em relação ao plástico. O uso desse material atende a duas necessidades principais: armazenagem e transporte. A garrafa PET é exemplo que vem rapidamente à cabeça.
Como essa realidade pode ser transformada? O que fazer para que a produção e o uso do plástico caminhem em direção a uma economia circular? De acordo com o relatório, existem estratégias capazes de elevar o reaproveitamento do plástico (seja para reúso ou reciclagem) para 70% – muito além dos 14% observados atualmente. Falamos abaixo sobre 3 delas:
Redesenho e inovação
Caso o design circular não seja aplicado, 30% das embalagens plásticas nunca serão reutilizadas ou recicladas. Atualmente, na lógica da economia linear, esse material foi pensado desde a concepção para ser incinerado ou descartado em aterros sanitários.
Falamos de embalagens menores como aquelas que revestem doces, além de sachês e tampas. Há também as embalagens de várias camadas de materiais presos uns aos outros para tornar mais eficiente o armazenamento dos alimentos – como a tetrapak, que se popularizou no mundo inteiro. Temos ainda a embalagem contaminada com restos de comida. Possíveis soluções são evitar as embalagens menores, usando-as somente quando não há outra opção, e produzir embalagens biodegradáveis, ou seja, que se transformam em nutrientes biológicos. Esse é o caso de algumas iniciativas que destacamos do concurso de design circular da OpenIDEO.
Reúso
Essa opção é atrativa economicamente para ao menos 20% das embalagens plásticas, que juntas possuem valor de mercado de 9 bilhões de dólares. Na cidade de São Paulo, por exemplo, vigora lei desde abril de 2015 proibindo estabelecimentos comerciais de distribuir sacolas plásticas. De acordo com a legislação, “os estabelecimentos comerciais devem estimular o uso de sacolas recicláveis, assim consideradas aquelas que sejam confeccionadas com material resistente e que suportem o acondicionamento e transporte de produtos e mercadorias em geral”. Antes da lei, as sacolas plásticas eram feitas de material muito ruim. Com a cobrança por parte dos supermercados, houve melhoria no material empregado. Isso facilita neste caso o reaproveitamento do plástico, ou seja, a utilização da sacola por mais tempo. Sem contar que muitos consumidores preferem usar sacolas de pano, cuja resistência é infinitamente maior em comparação às de plástico.
Os empresários devem também se preocupar em utilizar menos plástico em sua atividade econômica. As lojas de departamento e os sites de e-commerce costumam utilizar esse material em grande volume para transportar eletrônicos e eletrodomésticos dos centros de distribuição para a casa dos consumidores. Nesse sentido, há no mercado B2B, ou seja, de negócios entre empresas, oportunidades de redução do uso do plástico na armazenagem e no transporte.
Reciclagem
A reciclagem só será upcycle se os dois passos anteriores forem realizados. Nesse processo, que integra necessariamente as três estratégias, a reciclagem se mostra atrativa economicamente para 50% das embalagens plásticas restantes. Ou seja: o redesenho das embalagens fará com que a capacidade de reciclagem ou de reaproveitamento do plástico seja aperfeiçoada. Por meio do upcycle, os materiais continuarão em ciclos de uso de qualidade igual ou superior. As embalagens precisam ser projetadas de acordo com esses conceitos. Para os pesquisadores do estudo que repensa o futuro do plástico, o governo tem papel fundamental no estímulo à reciclagem por meio de políticas públicas que favoreçam o reaproveitamento do material.
E para que a reciclagem seja tecnica e economicamente viável, é necessário o redesenho dos próprios materiais. Isso gera inúmeras oportunidades de inovação tecnológica. Como exemplo, podemos citar o uso de nanotecnologia para otimizar as embalagens laminadas. Pesquisas recentes exploram ainda novos plásticos que podem ser reciclados quimicamente infinitas vezes sem perda de suas propriedades.
E você? Sabe de outros exemplos ou estratégias de reaproveitamento do plástico? Escreva no espaço de comentários deste post!
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