Uma das coisas mais legais que eu fiz este ano foi participar da seleção dos 10 projetos finalistas do desafio de inovação da National Geographic, o Ocean Plastic Innovation Challenge, na categoria de Economia Circular. O desafio é uma busca global por soluções inovadoras para resolver o problema dos plásticos descartáveis que acabam poluindo os oceanos.
A National Geographic e a Sky Ocean Ventures lançaram essa proposta em fevereiro de 2019, focando em três abordagens para a questão da poluição plástica. A primeira era desenhar alternativas para plásticos de uso único. A segunda, identificar oportunidades para as indústrias lidarem com resíduos plásticos em todas as cadeias de fornecimento. E a terceira, comunicar a amplitude da questão por meio da visualização de dados.
Os finalistas do desafio da National Geographic seguem para uma segunda fase, em que vão amadurecer os seus projetos, para então selecionarmos os vencedores de cada categoria em dezembro.
Privilégio = responsabilidade
Minha parte no processo até aqui foi avaliar 28 das 65 propostas inscritas na categoria de Economia Circular. Além disso, participei de uma reunião (online) com os outros membros do júri para discutir os resultados e selecionar os 10 finalistas de economia circular do desafio da National Geographic, a partir dessa avaliação inicial compartilhada.
Além da honra e privilégio de fazer parte desse grupo internacional cheio de pessoas incríveis e dedicadas ao assunto… Foi muito, muito inspirador conhecer tantos projetos tão criativos e possíveis, de tantos lugares do mundo! Demonstrando tantos jeitos mais inteligentes e elegantes e efetivos de fazer as coisas.
Mas com o privilégio vem a responsabilidade, que não era pouca. Ler com cuidado, avaliar com justiça – ou pelo menos com reflexão, e com critério. Tantos projetos interessantes! Por trás de cada ficha, horas de trabalho. E por trás de cada projeto, meses ou anos de pesquisa.
Equipes da Indonésia, do Brasil, do Quênia, da Espanha, da Finlândia, dos Estados Unidos. Gente de um país morando em outro, inclusive equipes de várias nacionalidades, atuando em rede por vários países. Foram 24 projetos selecionados, representando 13 países, de um total de 291 candidaturas. Dos 24, 10 da categoria de Economia Circular, 10 da categoria de Design e 4 projetos de Visualização de Dados.
Abaixo você lê um pouco sobre cada um dos projetos finalistas do desafio da National Geographic – começando com os 10 da categoria de Economia Circular, que são os que eu pude conhecer melhor. Os resumos são traduzidos da divulgação da própria NatGeo, enriquecidos de alguns outros detalhes que eu achei interessantes de compartilhar!
Os 10 finalistas do desafio da National Geographic na categoria de Economia Circular:
1 – Algramo (Chile)
A gente já falou aqui no blog sobre a Algramo, um projeto chileno muito interessante, mas com certeza você vai ouvir falar mais sobre eles! A Algramo desenvolveu uma tecnologia de distribuição em embalagens reutilizáveis voltada para consumidores de bairros desfavorecidos do Chile. A parceria com pequenos revendedores agora está sendo estendida para permitir que as principais marcas de consumo, como a Unilever, vendam seus produtos com um custo mais baixo e em embalagens convenientes, inteligentes e reutilizáveis.
2 – Hepi Circle (Indonésia)
A Hepi Circle entrega produtos – principalmente de limpeza – em embalagens reutilizáveis e recolhe as embalagens vazias para serem limpas e esterilizadas por meio de um programa de fidelização digital. Isso é muito significativo em um país que é o segundo maior ponto de vazamento de plásticos para o oceano. E em que 70% de todo o detergente comercializado vem em sachês individuais descartáveis, sem um sistema efetivo de coleta e reciclagem (dados da própria Hepi Circle).
3 – Infinity Goods (Estados Unidos)
A Infinity Goods é um serviço de mercearia lixo-zero que fornece e entrega mercadorias em embalagens reutilizáveis, além de recuperar e reutilizar as embalagens para entregas futuras. O serviço atualmente funciona na cidade de Denver, no Colorado.
4 – Kabadiwalla Connect (Índia)
A Kabadiwalla Connect desenvolve um projeto piloto “hiper-local” de coleta de lixo plástico em Mylapore, Chennai. O mais interessante desse projeto, na minha opinião, é que ele leva em consideração o protagonismo do setor informal na gestão de resíduos de países em desenvolvimento. Assim, o projeto Urbin usa tecnologia própria em um sistema desenhado em parceria com catadores, empresas geradoras e lojas de sucata da região.
5 – Kecipir (Indonésia)
A Kecipir é uma empresa de comércio online que oferece produtos frescos e orgânicos de agricultores locais aos consumidores urbanos por meio de um sistema de entrega totalmente reutilizável e circular. Assim, a empresa elimina na fonte a necessidade de plásticos de uso único, e ainda ajuda a resolver o problema do desperdício de alimentos.
6 – Keko Box (Estados Unidos)
A Keko Box tem como missão eliminar os potes e embalagens de alimentação de uso único. Para isso, fornece potes reutilizáveis como um serviço às empresas de alimentos. E isso não só reduz o desperdício, mas incorpora a logística reversa ao próprio modelo de negócios, e oferece uma melhor experiência ao cliente.
7 – Muuse / Revolv (Cingapura, Bali, Honk Kong)
Muuse (na seleção o nome do projeto era Revolv) é um sistema que permite que os usuários aluguem xícaras de café, garrafas e recipientes para alimentos reutilizáveis e os devolvam por meio de um sistema móvel de depósito. Com um design inovador das xícaras, e uma equipe multidisciplinar e internacional, o projeto vem testando diferentes materiais e modelos de negócios para reutilização em diversos lugares do mundo.
8 – Returnity (Estados Unidos)
A Returnity produz embalagens reutilizáveis e recicláveis personalizadas tanto para remessa quanto para entrega. Elas substituem as caixas de papelão e sacolas de plástico, e podem ser usadas pelo menos 40 vezes antes de serem recicladas.
9 – The Bulk Delivery Truck (Estados Unidos)
The Bulk Delivery Truck (Caminhão de Entregas a Granel) é um projeto de Felicia Ceballos-Marroquin, que ainda não está em fase de implementação, mas foi selecionado pela sua simplicidade e impacto potencial. Felicia visualizou uma loja móvel: um caminhão que circular oferecendo alimentos saudáveis a granel para bairros e comunidades desfavorecidas. O projeto se inspira nos caminhões de sorvete que já são tradicionais nesses bairros e cidades norte-americanos. A ideia é trazer benefícios econômicos, sociais e de saúde para quem vive nos chamados ‘food deserts’, com acesso restrito ou distante de mercados com alimentos nutritivos. No sistema a granel, os moradores trazem seus próprios potes para comprar a quantidade de alimentos que desejam.
10 – Vessel (Estados Unidos)
A Vessel oferece uma “biblioteca” de copos térmicos em aço inoxidável que as pessoas retiram gratuitamente em pontos de venda de bebidas, e podem devolver em quiosques dedicados. A marca quer inspira mudanças positivas de comportamento, oferecendo aos usuários uma visão das métricas de impacto social e ambiental associada ao uso de tecnologia IOT.
Os 10 finalistas do desafio da National Geographic na categoria de Design:
1 – Astu Eco Container Box (Índia)
O Astu Eco Container Box é uma solução de armazenamento 100% compostável. Adaptado ao uso em geladeira, microondas e freezer, oferece uma alternativa sustentável para embalagens plásticas de alimentos.
2 – A Chemolex Ltd (Quênia)
A Chemolex Ltd cria bandejas bioplásticas de alimentos e outras embalagens de produtos feitas a partir da planta invasiva jacinto-d’água, enquanto também limpa o Lago Vitória.
3 – A EarthSuds (Canadá)
A EarthSuds quer eliminar os frascos de produtos de uso único de plástico com seus xampus, condicionadores e sabonetes em tabletes. Quando expostos à água, os tabletes dissolvem e espumam como os produtos tradicionais, e são distribuídos em recipientes reutilizáveis e elegantes.
4 – EcoFLEXY (Dinamarca)
A EcoFLEXY é uma embalagem 100% natural e flexível produzida a partir de resíduos de frutas. Ela pode ser usada com segurança para alimentos, tem uma vida útil longa, mantém os alimentos frescos e é inofensiva ao meio ambiente.
5 – Precious Planet (Reino Unido)
A Precious Planet é uma gama de embalagens 100% compostáveis, sem plástico, para a indústria alimentar. Produzidas a partir de de resíduos agrícolas de trigo, arroz, milho e cana-de-açúcar, em que apenas 20% da planta são usados como alimento. Os 80% restante das fibras são usados para produzir esse papel rígido, que pode ser reciclado até 7 vezes antes de ser compostado.
6 – Qwarzo (França)
A Qwarzo desenvolve uma tecnologia inovadora de papel que fornece uma solução 100% reciclável, biodegradável e compostável para substituir de forma econômica o plástico descartável em diversas aplicações, como colheres para mexer café, talheres, canudos e outras embalagens.
7 – WrapPak® Protector da Ranpak (Holanda)
O novo WrapPak® Protector da Ranpak usa papel ondulado e costurado para fornecer isolamento no envio de produtos com temperatura controlada, como carnes, refeições e outros ingredientes alimentícios.
8 – Reboo (Dinamarca)
A Reboo é uma embalagem durável e reutilizável de alimentos e bebidas feita de fibra de bambu biodegradável, eliminando a necessidade de embalagens descartáveis no setor de alimentos.
9 – Savor (Estados Unidos)
A Savor é uma linha de colheres comestíveis, criadas com ingredientes naturais e saborosos para combater a poluição de plásticos de uso único.
10 – Turning Threats into Opportunities – TTO (Quênia)
Esse projeto do Quênia usa o jacinto esmagado, papel reciclado e cola de madeira para criar uma gama de soluções para substituir alguns produtos plásticos de uso único, como pratos, copos, sacolas de compras e embalagens.
Os 4 finalistas do desafio da National Geographic na categoria de Visualização de Dados:
1 – Cataracta (Estados Unidos)
Cataracta é uma obra de arte imersiva criada a partir de dados que ajudam a visualizar o fluxo estimado de microplásticos para os oceanos a partir de 10 rios.
2 – LSU Remote Plastic Assessment Group (Estados Unidos)
O grupo LSU Remote Plastic Assessment Group usa drones para mapear detritos plásticos na Ilha Elmer e em outras praias remotas de Louisiana.
3 – #PerpetualPlastic (Alemanha, Estados Unidos e Indonésia)
#PerpetualPlastic mistura arte e ciência para criar esculturas físicas a partir de chinelos encontrados nas praias de Bali, representando dados sobre os caminhos e o destino de todos os plásticos já produzidos.
4 – “So, how long will it take?” (Israel – Estados Unidos)
“So, how long will it take?” é uma visualização interativa dos resíduos de plástico descartados, conforme a distância que eles percorrem até o oceano. É uma metáfora física de como a poluição plástica está distanciando o oceano de nós.
Próximos passos para os projetos finalistas do desafio da National Geographic
Os finalistas e vencedores de cada tema terão direito a uma parte do prêmio de US $ 500.000. Mas não pára aí: alguns finalistas do desafio da National Geographic também podem ser selecionados a receber até US$ 1 milhão em investimentos da Sky Ocean Ventures.
Os vencedores vão ser escolhidos em dezembro de 2019, depois que as equipes apresentarem suas soluções pessoalmente aos juízes na sede da National Geographic. Se tudo der certo, eu estarei lá! E venho aqui contar mais sobre os projetos e divulgar os vencedores de cada categoria.
E você? Quais projetos achou mais interessantes? Conta aqui nos comentários!