Quando criamos a Ideia Circular em 2015, poucas pessoas no Brasil tinham ouvido falar em economia circular. De lá pra cá, uma mudança muito bem-vinda: o assunto vem sendo abordado, em maior ou menor profundidade, por diversos meios de comunicação nacionais. No último mês, a economia circular foi matéria de capa da revista Você S/A: “para salvar o planeta – e os negócios – do colapso, surge um novo modelo de capitalismo, no qual nada se descarta e tudo se aproveita”. Na sequência, a previsão de que mais de 3 milhões de empregos serão gerados a partir desse modelo, além de oportunidades para quem deseja empreender.
Quem também deu destaque para o assunto recentemente foi o programa Mundo S/A, da Globo News, que falou sobre a economia circular aplicada à moda. O canal promoveu também, em maio deste ano, o evento Globo News Prisma, com sessões específicas sobre economia circular e por que ela é importante para o futuro do planeta. Além disso, o tema foi abordado recentemente no caderno de economia do Estadão e em diversas revistas como Veja, Exame, Valor e Época. A edição deste ano do Festival Path, que aconteceu nos últimos dias 19 e 20 de maio, teve um circuito especial só com atividades relacionadas ao tema.
A imprensa internacional fala sobre economia circular há muito mais tempo e com frequência maior. Em 2016 ela foi tema da reportagem de capa de uma edição da Nature, uma das revistas científicas mais antigas e respeitadas do mundo. O veículo também publicou em seu site uma seção especial com outros artigos sobre o assunto. Em 2017, foi a vez do Journal of Industrial Ecology publicar um volume inteiramente dedicado ao assunto.
Mesmo em publicações não-acadêmicas, essa também é uma discussão com presença consolidada nos meios de comunicação estrangeiros, como o jornal britânico The Guardian. Existem inclusive várias iniciativas que estão sendo conduzidas neste momento por empresas grandes ou pequenas, do tipo startup ou de modelo de negócio já consolidado no mercado. É com alegria que estamos notando o crescimento do interesse das empresas que atuam no Brasil pela economia circular, com cada vez mais casos nacionais de inovação. Alguns deles nós já exploramos no blog – Oka Bioembalagens, FibraResist, Remaster, Sinctronics, Casa Circular, Cataki – e vários outros de que cada vez mais temos notícias, e vamos continuar divulgando por lá.
Já deu para perceber a importância desse tema. Vamos resumir economia circular por meio das cinco ideias abaixo:
1 – O modelo econômico tradicional linear está falido
Esse é o ponto de partida da economia circular. No modelo linear de organização econômica, adotado desde a Revolução Industrial, os materiais empregados nos produtos percorrem via de mão única. Não há preocupação com o reaproveitamento adequado dos recursos. Como consequência, um cenário preocupante, já que o planeta caminha a passos largos para o esgotamento das matérias-primas. Nos Estados Unidos, por exemplo, mais de 90% dos recursos extraídos para produção de bens duráveis transformam-se em lixo quase que imediatamente.
2 – O segredo está no design de produtos e sistemas
O design circular é diferente do design de produto praticado na economia linear, que estimula basicamente desperdício e consumismo. No design circular, os produtos e sistemas são projetados para manter o valor dos recursos em circulação para as gerações futuras. A etapa de concepção tem enorme importância para atingir esse objetivo. Além de escolher os melhores materiais e a melhor forma de utilizá-los em determinado produto, o designer circular também desenha sistemas efetivos de reuso, reparo, redistribuição, remanufatura ou – em último caso – reciclagem. Isso torna possível manter o valor de componentes e matérias-primas em novos ciclos de uso.
E tem mais: o design circular não pressupõe a mesma solução para todas as situações, aquela ideia de massificar própria da Revolução Industrial. Para chegar ao melhor produto ou sistema para cada caso, as particularidades do local e das pessoas devem ser levadas em conta.
3 – Só interessam os ciclos de uso de qualidade igual ou superior
Não estamos falando de qualquer ciclo de uso. O que isso significa? Que a reciclagem por si só não basta, pois não adianta transformar um material em algo que diminua a qualidade dos materiais, como ocorre comumente na reciclagem tradicional – que na maior parte das vezes é uma subciclagem, ou downcycle. Na economia circular do berço ao berço (Cradle to Cradle), a reciclagem é trabalhada de forma que a qualidade dos materiais se mantém com relação ao estado original – ou ainda é agregado valor, o que chamamos de upcycle, ou superciclagem.
4 – O lixo é um erro de design
No modelo proposto pela economia circular e pelo design Cradle to Cradle, o conceito de lixo não existe – ou como propomos em nosso manifesto, o lixo é um erro de design. Fica fácil entender o porquê depois de ler o tópico anterior. Isso significa que os países poderão diminuir os gastos com o descarte dos materiais em aterros sanitários ou por meio da incineração. Na economia circular, os recursos continuam inseridos em ciclos de uso, servindo de insumo para produtos e sistemas de qualidade igual ou superior.
5 – Uma economia calculada em bilhões de dólares
Se a indústria não precisa mais extrair recursos virgens, porque está reutilizando os materiais disponíveis nos seus produtos, há uma enorme economia no processo produtivo. Somente a indústria têxtil perde todos os anos mais de 500 bilhões de dólares por causa do uso insuficiente ou descarte rápido das roupas e do índice de reciclagem muito baixo.
Pesquisas da Fundação Ellen MacArthur, SUN e McKinsey identificaram que the adotando os princípios da economia circular, a Europa poderia se aproveitar da crescente revolução tecnológica, criando oportunidades para a regeneração e inovação da indústria e ainda gerar um ganho econômico líquido de 1,8 trilhão de euros por ano até 2030 – o dobro do esperado no atual modelo linear.
É um fato que o sistema produtivo linear que vivemos hoje é insustentável. Muito mais do que uma tendência, a economia circular vem se consolidando como um movimento real que vai mudar os paradigmas do modelo atual de produzir, distribuir e consumir.
Com essa mudança na maneira de pensar, novos modelos de negócio tendem a surgir, gerando efeitos positivos diretos, onde o planeta deixa de ser descartável e passa a ser renovável. Todos nós que vivemos nele só temos a ganhar.
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