Os quase três mil lixões que existem no Brasil, de acordo com a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública), são apenas um dos indicativos de que existe algo muito errado no modelo atual de produção, também conhecido como economia linear. Nele, o lixo é gerado a todo momento e em volume que só cresce. O gerenciamento ruim dos resíduos agrava esse problema – mais de 3.300 cidades brasileiras recorrem a depósitos irregulares, como os lixões, para armazenar os resíduos.
A solução regulamentada são os aterros sanitários, considerados superiores aos lixões, pois são áreas preparadas para receber os resíduos. Neles, há de tudo um pouco. Por lá dividem o espaço móveis velhos, estofamentos, roupas, carpetes, televisores, telefones, computadores e embalagens plásticas, além de materiais orgânicos como papel, madeira e restos de comida.
Talvez você não perceba, mas todos esses materiais significam muito dinheiro jogado fora. Não estamos acostumados a pensar assim porque a economia linear estimula, especialmente desde a Revolução Industrial, a substituição constante dos produtos, sem que haja preocupação com o reaproveitamento adequado dos recursos. A maioria desses produtos é formada de materiais valiosos que exigiram esforço e muito dinheiro para que fossem extraídos e usados na indústria.
Os materiais orgânicos, por exemplo, poderiam ser projetados potencializando sua característica biodegradável. Se fossem desenhados assim, produtos como fralda e papel poderiam simplesmente devolver os nutrientes biológicos para o solo.
Na economia linear, os materiais estão fadados a percorrer uma via de mão única. Nos Estados Unidos, mais de 90% dos recursos extraídos para produção de bens duráveis transformam-se em lixo quase que imediatamente. Eles são extraídos e submetidos ao processo industrial para geração de produtos. Depois disso, são vendidos e consumidos. Por fim, acabam amontoados em um lixão ou terminam em um aterro ou no incinerador.
O destino, portanto, é uma “espécie de sepultura”, como definem Michael Braungart e William McDonough no livro “Cradle to Cradle: criar e reciclar ilimitadamente”. Daí vem a expressão “do berço ao túmulo” – “cradle to grave” em inglês – que se origina na metodologia de análise de ciclo de vida de produtos, e é utilizada por Braungart e McDonough para definir a economia linear. Você pode argumentar que existe a reciclagem, mas ela é geralmente conduzida de acordo com o processo de downcycle, fazendo com que os materiais deem origem a produtos enquadrados em cadeia de valor inferior.
O erro da economia linear está no design do produto, mais precisamente na concepção dele. Para a economia circular e o cradle to cradle, o lixo é um erro de design, já que esse destino é definido na etapa de elaboração do produto, que não prevê sua reutilização adequada. O reaproveitamento correto é aquele em que o material volta a ser empregado em cadeia de valor igual ou superior ao produto original.
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Lixo é um solução humana encontrada pelas pessoas que ainda não acordaram para a necessidade de ter um ciclo inteligente para as sobras, quebras, obsolescências, dentre outros fatores envolvidos no consumo. Não considero que é um erro de design mas falta de educação, consciência e um entendimento que tudo está interligado na vida orgânica sobre a Terra e que nossas ações afetam significativamente o equilíbrio dos diversos sistemas que nos mantém vivos. Ademais, a Terra não é um sistema fechado, é um sistema totalmente aberto e interligado ao mundo dos planetas.