Cradle to Cradle (abreviado como C2C) em inglês quer dizer ‘do Berço ao Berço’.
É otítulo de um livro-manifesto publicado em 2002 pelo arquiteto americano William McDonough e pelo engenheiro químico alemão Michael Braungart, que veio a se tornar uma das obras mais influentes do pensamento ecológico mundial. (No Brasil, o livro foi publicado em 2014 pela editora Gustavo Gilli, com o título Cradle to Cradle – Criar e reciclar ilimitadamente).
O pensamento ‘do Berço ao Berço’ surge como uma provocação, questionando a ideia de considerar a vida de um produto ‘do berço ao túmulo’ – cradle to grave, uma expressão usada na análise de ciclo de vida para descrever o processo linear de extração, produção e descarte de materiais e produtos.
Para uma indústria C2C, a ideia central é que os recursos sejam geridos em uma lógica circular de criação e reutilização, em que cada passagem de ciclo se torna um novo ‘berço’ para determinado material.
Assim, o modelo linear é substituído por sistemas cíclicos, e os recursos são reutilizados indefinidamente e circulam em fluxos seguros e saudáveis para os seres humanos e para a natureza.
Para isso, os nossos processos industriais precisam diferenciar os nutrientes biológicos dos técnicos.
E, para isso, eles precisam retornar como nutrientes para os sistemas naturais – no caso de materiais biológicos – ou serem aproveitados ciclicamente em processos industriais no ciclo técnico, sem perda de qualidade – o que chamamos de upcycle, ou superciclagem.
O pensamento Cradle to Cradle também distingue medidas eficientes (quantitativas) das efetivas (qualitativas).
Os processos que visam eficiência em geral se pautam na redução, minimização e compensação de danos, muitas vezes sem questionar o sistema linear existente. É o caso da maioria das estratégias convencionais de sustentabilidade.
Essa minimização, sem mudanças sistêmicas, funciona como se alguém estivesse dirigindo um carro na direção de um abismo e se contentasse em reduzir a velocidade. Você vai mais devagar, mas continua guiando para a mesma direção…
E isso é diferente de medidas efetivas, que visam não apenas minimizar os danos, mas também otimizar os ganhos em direção a um efeito positivo para as pessoas e o planeta.
Como propõem os autores do C2C, ser ‘menos ruim’ não é o mesmo que ser bom.
Em um sistema industrial Cradle to Cradle, portanto, ao invés de se pensar somente em gestão de danos ou redução de resíduos, elimina-se a própria ideia de lixo.
E isso não significa um mundo de racionamento, eficiência e minimização. Pelo contrário: se produtos, fábricas e cidades são criados de forma inteligente desde o início, não é necessário pensar em termos de desperdício ou contaminação. Esse conceito de design integrado propõe um futuro de abundância, e não de escassez.
A metodologia, que hoje é também uma certificação já foi adotada em milhares de produtos e por empresas como Herman Miller, Saint Gobain, C&A e Shaw, e inspirou edifícios como a Sustainabilty Base da NASA, a planta industrial da Ford River Rouge e a Casa Circular, além do desenvolvimento urbano de regiões da China, Holanda e Dinamarca.
Com esses resultados, a metodologia Cradle to Cradle é considerada uma ferramenta poderosa para a construção de uma Economia Circular , apoiando projetos com critérios claros para uma lógica cíclica, que é a única que pode se sustentar a longo prazo no nosso planeta.