Novo robô de reciclagem da Apple desmonta 200 iPhones por hora

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A Apple anunciou recentemente um robô de reciclagem capaz de desmontar 200 iPhones em uma única hora. Chamada de Daisy, a máquina extrai com sucesso partes advindas de nove tipos diferentes de iPhone. A cada 100 mil aparelhos, o robô recupera 1,9 mil quilos de alumínio, 770 quilos de cobalto, 710 quilos de cobre e 11 quilos de elementos raros de encontrar no solo. O robô é considerado pela empresa um passo relevante na busca pela produção de aparelhos feitos apenas de materiais recicláveis.

Crédito: Reportagem Inhabitat

“Para satisfazer nossa meta, precisamos usar 100% de materiais provenientes de fontes responsáveis, recicláveis e reutilizáveis, além de nos certificarmos de que o volume equivalente retorna ao mercado”, escreveu a empresa em um relatório, reconhecendo que essa meta só será alcançada daqui a alguns anos.

O planejamento da Apple é criar robôs Daisy em diferentes locais dos Estados Unidos e da Europa. Graças às suas iniciativas de reciclagem, a empresa reduziu o consumo de alumínio virgem em 23 pontos percentuais desde 2015.

Design Circular

Ainda que o esforço seja digno de reconhecimento, é possível questionar se essa tecnologia  é suficiente para colocar a empresa no caminho de produtos e processos circulares. Afinal, não haveria necessidade do robô se as peças dos aparelhos fossem facilmente desmontáveis. Para que isso fosse possível, o design de produto teria esse objetivo definido ainda na fase de concepção do aparelho.

Como já vimos aqui no blog, o design circular tem a preocupação desde o início do processo de criação do produto de assegurar o uso mais inteligente possível dos recursos produtivos.

Sendo assim, uma possibilidade enquadrada no design circular seria formular a produção do aparelho a partir de uma lógica fundamentada na montagem por módulos. Esse modelo foi adotado inicialmente pela empresa holandesa Fairphone. Os celulares da Fairphone são desmontados pelo próprio usuário, que pode abrir o aparelho a qualquer momento, trocando suas peças e atualizando o hardware de acordo com a tecnologia do momento. Recentemente, o Google anunciou solução parecida.

Política de destruição

Quando a Apple anunciou a intenção de acabar completamente com a mineração e utilizar apenas materiais recicláveis para a fabricação de novos produtos, muitos questionaram o quanto a empresa realmente estaria comprometida com essa meta, levando em consideração seu histórico de dificultar o conserto e upgrade de produtos. Reportagem da Motherboard publicada em abril do ano passado divulgou documentos redigidos por funcionários da própria Apple. De acordo com eles, a companhia tem a prática de forçar os fornecedores de reciclagem parceiros a destruir os iPhones e MacBooks para inviabilizar seu reparo ou reúso. Os aparelhos são reduzidos a cacos de metal e vidro, segundo a matéria, não havendo, portanto, preocupação de manter os materiais em ciclos de uso de qualidade igual ou superior.

Em outro documento, enviado pela empresa em setembro de 2016 para o departamento do Meio Ambiente da Carolina do Norte, há mais uma vez referência à “política de destruição”. “Os equipamentos coletados para reciclagem são desmontados e destruídos manualmente e por meio de máquinas. Os fragmentos resultantes são separados e classificados como plástico, metal e vidro para que sejam vendidos como insumo do processo de fabricação”, de acordo com o conteúdo encaminhado para o órgão de fiscalização.

Reconhecimento

Ainda que casos como esse desabonem o discurso de empresas como a Apple, não se podem desprezar ou desconsiderar as metas ambiciosas assumidas na transição para um modelo produtivo circular. Lisa Jackson, vice-presidente de iniciativas ambientais, políticas e sociais da Apple, afirmou em entrevista: “nós estamos fazendo algo que raramente fazemos, que é anunciar uma meta antes de descobrirmos completamente como cumpri-la. Então, estamos um pouco nervosos, mas também achamos que é realmente importante, porque acreditamos que é para onde a tecnologia precisa ir”. Companhias como a Apple são líderes em suas atividades e têm o potencial de influenciar o mercado como um todo. Esse tipo de anúncio de intenção ajuda a criar metas positivas para a indústria e permite perceber – e cobrar – quando os esforços ficam aquém da promessa.    

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