Nos últimos anos, grande parte dos fabricantes de água engarrafada aderiram a embalagens mais leves, que apresentam uma redução em torno de 20% no volume de PET empregado em sua produção. Contudo, muitos consumidores percebem a mudança como algo negativo, uma vez que as paredes mais finas das novas garrafas “eficientes” tornam seu uso mais difícil: elas amassam a qualquer apertão, e muitas vezes derramam água sobre o usuário no momento de abri-las.
Ainda que a redução no volume de materiais na fabricação possa trazer ganhos mensuráveis do ponto de vista ambiental, existe uma perda imensurável – mas não por isso menos significativa – do ponto de vista cultural: o consumidor passa a associar o produto ‘ecológico’ com uma perda de qualidade. Neste caso, a versão ‘ecológica’ ou ‘sustentável’ das antigas garrafas é claramente menos funcional, confortável e atraente do que o que existia anteriormente no mercado. Optar por essas garrafas seria um ‘sacrifício’ em nome do meio-ambiente, em que se abre mão de conforto e qualidade para possibilitar uma redução de danos, representada pelo menor uso de recursos na etapa de fabricação das garrafas.
Essa visão é fundamentalmente oposta ao que propõe o design C2C: que a performance ecológica seja vista como uma questão de qualidade, e não uma questão moral ou arbitrariamente restritiva. Dessa forma, um produto ecológico precisa ser ao menos tão efetivo, atraente e funcional quanto suas alternativas no mercado, se não superior. Ainda que a redução seja uma medida importante em certos casos, não é um fim em si mesma, já que a ideia é progredir da eficiência à efetividade. No caso que estudamos, não adianta uma garrafa ser eficiente (menos má) sem ser efetiva (boa), a começar pelo desempenho satisfatório de suas funções básicas para o usuário.
O design C2C propõe que possamos ir além da minimização dos impactos negativos, repensando o ciclo produtivo como um todo, para que os materiais possam preservar e transmitir seu valor como nutrientes, escapando à lógica linear que torna a minimização a única medida possível. Se a produção das garrafas estiver inserida em um sistema circular em que sejam recicladas com qualidade no ciclo técnico, ou sirvam como nutrientes para o ciclo biológico, não é necessário pensar apenas em termos de redução. O principal é entender a proposta de que o desempenho ambiental, assim como o funcional, é uma questão de qualidade de design, e um não precisa – e não deve – ser preterido em nome do outro.
sobre a autora:
Carla Tennenbaum é formada em História e Design para Sustentabilidade e atua como designer, artesã e facilitadora criativa. Pesquisa e desenvolve tecnologias de valoração / upcycle de recursos descartados e facilita processos coletivos de inovação.
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