Seminário Virtual: “O Impacto das Mudanças Climáticas nas Temperaturas Urbanas: experiências de São Paulo, Lisboa, Buenos Aires e Bogotá”

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No dia 16 de setembro de 2024, a Ideia Circular teve a honra de mediar e conduzir o seminário virtual “O Impacto das Mudanças Climáticas nas Temperaturas Urbanas: experiências de São Paulo, Lisboa, Buenos Aires e Bogotá”, que reuniu palestras sobre as ações climáticas adotadas pelas quatro cidades. O evento ocorreu no contexto do projeto “Instrumento de Gestão Urbana e Ambiental: Atlas de Temperaturas da Cidade de São Paulo”, uma iniciativa da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente do Município de São Paulo (SVMA) em parceria com a União das Cidades Capitais Ibero-americanas (UCCI).

O seminário partiu de  discussões promovidas em dois intercâmbios virtuais prévios realizados em agosto de 2024, que contaram com a participação de representantes de São Paulo, Buenos Aires e Bogotá. Esses intercâmbios foram fundamentais para preparar o conteúdo e as diretrizes do programa. Além disso, a cidade de Lisboa também se juntou ao seminário, enriquecendo ainda mais as discussões.

Aqui você pode assistir à gravação do evento, e na sequência trazemos um resumo de cada apresentação!

Programação e contribuições – O Impacto das Mudanças Climáticas nas Temperaturas Urbanas

O evento teve uma programação dividida em sete etapas. A abertura foi feita por Fernando Mugaburu, Diretor Adjunto de Relações Internacionais e Cooperação da UCCI, e Rodrigo Ravena, Secretário do Verde e Meio Ambiente da Cidade de São Paulo (SVMA), que apresentaram os objetivos do seminário e os participantes. 

Em seguida, a Prof. Drª. Denise Duarte (FAU/USP) fez uma introdução ao tema, buscando trazer o contexto dos desafios e ações que vêm sendo desenvolvidas em São Paulo para lidar com as mudanças climáticas. Entre essas ações está o projeto do Atlas de Temperaturas da Cidade de São Paulo, que envolve uma série de pesquisas e projetos criados a partir de parcerias entre o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG/USP), a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/USP) e a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA). 

Na apresentação, Denise trouxe uma série de dados que comprovam o aumento histórico das temperaturas médias globais em 2023 e 2024, destacando o agravamento desse cenário no Brasil, marcado por ondas de calor extremas e eventos climáticos intensos, como as inundações no Rio Grande do Sul no primeiro semestre de 2024. Estas análises foram essenciais para contextualizar e preparar o público para as discussões subsequentes.

Anomalias de temperatura do ar na superfície global.

Fonte: C3S/ECMWF, 2024.

Na sequência, vieram as apresentações, focadas em iniciativas de cada cidade para abordar a questão dos impactos das mudanças climáticas nas temperaturas urbanas. Você encontra um breve resumo de cada uma delas a seguir!

São Paulo: “Análises Microclimáticas no Distrito de São Lucas, São Paulo: cenário existente e intervenções propostas”

As Dras. Carolina Gusson e Paula Shinzato (Sócio-fundadoras do C-ADAPT) realizaram um estudo detalhado sobre o microclima no Distrito de São Lucas. O objetivo era avaliar a área e propor melhorias usando infraestrutura verde e mudanças nas construções para tornar o clima local mais agradável. Elas analisaram a situação atual, considerando as construções e a vegetação existentes, e criaram quatro cenários diferentes para comparação.

Área de domínio da simulação de cenário existente no Distrito de São Lucas.

GUSSON; SHINZATO, 2024. 

Os resultados mostraram que, atualmente, há grandes variações de temperatura na área. Durante o dia, os locais com prédios são mais frescos devido à sombra, enquanto as ruas são mais quentes. À noite, esse padrão se inverte, evidenciando o efeito de ilha de calor. Nos cenários propostos, a adição de árvores e parques mostrou melhorias significativas. O cenário mais eficaz incluiu um parque e árvores com folhas mais densas, além de novas construções planejadas. Isso resultou em temperaturas mais amenas e um ambiente mais confortável para os moradores.

Bogotá: “Ações Climáticas em Bogotá, D.C.”

O Msc. Diego Alberto Sáenz-Meneses, Assessor do Gabinete da Prefeitura da Secretaria Distrital de Meio Ambiente de Bogotá (SDA), compartilhou as ações da cidade de Bogotá, na Colômbia, para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, incluindo projetos de adaptação e de conscientização da população.

Estas ações de Bogotá iniciaram-se em 2021 com a avaliação de riscos climáticos do município. A análise considerou fatores como temperatura e precipitação, resultando na criação do Índice de Risco Climático (IRC). O desenvolvimento do IRC combinou a metodologia do Programa de Planejamento Climático da C40 com indicadores sociais, permitindo identificar cinco principais riscos: movimentos de massa, ilhas de calor urbanas, incêndios florestais, inundações e enchentes torrenciais. 

A avaliação revelou que as áreas de maior risco, como San Cristóbal, Usme e Ciudad Bolívar, apresentam alta densidade populacional, construções informais e poucas ações de planejamento urbano, fatores que ampliam vulnerabilidades e desafios para implementar medidas de adaptação climática. 

Ao total, foram apresentadas 15 medidas de adaptação para as localidades vulneráveis de Bogotá, com o objetivo de aumentar a resiliência da cidade às mudanças climáticas e reduzir suas vulnerabilidades. Entre as ações propostas, destacam-se a promoção do urbanismo sustentável, a conservação e restauração da biodiversidade, a conectividade ecossistêmica ao longo do Rio Bogotá, o apoio a áreas rurais e a mitigação do risco de incêndios florestais. 

Síntese de ações climáticas adotadas em Bogotá, por localidade. 

Fonte: SDA, 2024.

Buenos Aires: “Projeto de Rede de Monitoramento de Temperatura e Umidade no Bairro 20”

Em sua apresentação, a Drª. Patricia Himschoot, Gerente de Mudanças Climáticas do Governo da Cidade de Buenos Aires (GCBA), discorreu sobre a Rede de Monitoramento de Temperatura e Umidade no Bairro 20, em Buenos Aires, na Argentina. Eles estão medindo a temperatura e umidade em um bairro chamado Bairro 20, que sofre muito com o calor e problemas ambientais.

O objetivo é entender como as áreas verdes, como parques e jardins, podem ajudar a diminuir o calor na cidade. Eles acreditam que a falta de plantas e árvores faz com que algumas partes da cidade fiquem muito mais quentes que outras.

No começo, usaram termômetros simples e câmeras especiais, e descobriram que o Bairro 20 era mais quente que outros lugares da cidade. Depois, com a ajuda dos moradores, colocaram 10 termômetros fixos em diferentes pontos do bairro. Isso não só ajudou a coletar mais informações, mas também ensinou aos moradores sobre as mudanças no clima e como as áreas verdes podem ajudar.

Os termômetros medem a temperatura a cada hora, e os resultados são bem interessantes. Por exemplo, em um centro de saúde que fica no sol, a temperatura pode chegar a 41°C. Já em um bar com muitas plantas, chamado “Patio Mágico”, a temperatura fica entre 33 e 36°C. Isso mostra como a vegetação pode fazer uma grande diferença.

Com essas informações, a equipe está criando um “índice de calor”, parecido com o que usam em Barcelona. Esse índice ajuda a entender melhor o risco de calor em diferentes lugares, considerando não só a temperatura, mas também a umidade do ar. Isso pode ajudar a cidade a planejar melhor onde colocar mais áreas verdes para tornar a vida das pessoas mais confortável nos dias quentes.

Localização dos 10 termômetros instalados no Bairro 20 (em verde).

Mapa

Descrição gerada automaticamente
Fonte: Patricia Himschoot/Gerencia Operativa
de Cambio Climático del GCBA, 2024.

Gráfico indicando resultados de temperatura encontrados nos 10 termômetros instalados em localidades do Bairro 20. 

Fonte: Patricia Himschoot/Gerencia Operativa de Cambio Climático del GCBA, 2024.

Lisboa: “Compromisso para a Adaptação Climática 2030”

Drª. Maria José Telhado, Diretora de Departamento do Ambiente, Energia e Alterações Climáticas da Câmara Municipal de Lisboa (DMAEVCE/CML), expôs os compromissos de Adaptação Climática da cidade de Lisboa para 2030, enfatizando as políticas de resiliência e sustentabilidade da capital portuguesa.

Em Lisboa, as projeções climáticas revelam dados para quatro cenários de estudo:  

  1. aumento da temperatura; 
  2. diminuição da precipitação média; 
  3. elevação do nível do mar;
  4. intensificação de fenômenos extremos, como chuvas torrenciais. 

Esses indicadores apontam para uma tendência negativa do ponto de vista climático, refletindo um aumento no número de dias quentes, noites tropicais e ondas de calor.

Desde 2008, diversas plataformas e compromissos têm sido implementados em Portugal para enfrentar estes desafios climáticos, com ênfase na nova Lei de Bases do Clima, aprovada pela Assembleia da República em 2021. Em 2024, Lisboa lançou o “Contrato Climático da Cidade de Lisboa 2030“, com o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 80% até 2030, antecipando o prazo originalmente estabelecido para 2050. 

O contrato se baseia em três eixos principais: adaptação e resiliência, neutralidade carbônica e inclusão social, incluindo mais de 500 compromissos e um investimento estimado superior a 5 bilhões de euros. 

Infográfico (acima) e gráfico (abaixo) indicando multisetorialidade entre as ações adotadas no “Contrato Climático da Cidade de Lisboa 2030”.

Fonte: Município de Lisboa, 2024. 

Dentre as intervenções destacadas nestas ações, estão a promoção da arborização por meio da criação de parques, jardins e corredores verdes, além da implementação de soluções de conforto climático em edifícios.

As intervenções proporcionam diversos benefícios, evidenciando a importância da infraestrutura verde nas cidades. Estudos em Lisboa indicam um significativo arrefecimento de 6 a 7 °C nas temperaturas urbanas, reforçando a necessidade dessas ações.

Benefícios gerados pelas intervenções baseadas no uso de infraestrutura verde.

Fonte: Município de Lisboa, 2024. 

Após as apresentações, a Ideia Circular moderou um espaço de discussão, permitindo que os participantes interagissem com os palestrantes e compartilhassem suas experiências.

Troca de experiências

O evento promoveu uma troca valiosa de experiências e destacou a importância de uma abordagem colaborativa no enfrentamento dos impactos das mudanças climáticas nas temperaturas urbanas.

Se você perdeu o seminário ou quer revisitar alguma parte das discussões, pode assistir à gravação integral aqui no começo do post! E, se quiser, deixe seus comentários aqui. 

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