Hoje é dia 15 de março de 2019, data marcada por estudantes de mais de 100 países para sua greve global pelo clima. E ontem, na véspera do evento, a jovem sueca Greta Thunberg, de 16 anos, foi indicada para o Prêmio Nobel da Paz.
Greta foi a grande inspiração para a Greve Global pelo Clima. Em agosto do ano passado, se propôs a faltar à escola toda sexta-feira para sentar em frente ao parlamento sueco, em protesto, até que os governantes tomem as medidas mínimas cabíveis para a gravidade da situação que estamos enfrentando.
A história de Greta
A história de Greta Thunberg é inspiradora. A jovem foi diagnosticada com Síndrome de Asperger, o que faz com que tenha mais dificuldade em se desligar de questões preocupantes e seguir com a vida como se nada estivesse acontecendo.
Desde que tomou consciência do aquecimento global, aos 8 anos, a preocupação com o futuro já fez com que ficasse deprimida. Mas hoje motiva seu trabalho incansável para chamar a atenção dos tomadores de decisão para a responsabilidade de adotar atitudes efetivas para mudar a situação.
Desde que Greta iniciou seu protesto solitário em frente ao parlamento sueco, o movimento se espalhou pelas mentes e corações de centenas de milhares de estudantes, que estão se organizando ativamente pelo mundo todo. Em diversos países, grupos de jovens aderiram ao protesto semanal, batizado de Fridays for Future (sextas-feiras pelo futuro) E as manifestações de hoje da Greve Global pelo Clima são um marco histórico.
Não apenas pela adesão recorde, mas pela própria natureza do movimento. Afinal, nunca antes na história vimos jovens organizados dessa forma para cobrar dos adultos as mudanças necessárias para sua sobrevivência. Como disse Greta, na última Cúpula do Clima, na Polônia: “Como nossos líderes comportam-se como crianças, nós teremos que assumir a responsabilidade que eles deveriam ter assumido há muito tempo atrás”.
Greve Global pelo Clima no Brasil
No Brasil também houve adesão dos estudantes a Greve Global pelo Clima, ainda que em números bem menos expressivos do que em outros países. São previstas manifestações em pelo menos 19 cidades brasileiras, organizadas sob a hashtag #FridaysforFutureBrasil, e também chamadas de Greve pelo Futuro.
Segundo eventos divulgados nas redes sociais, e matéria publicada pela Deutsche Welle, hoje acontecem ações de jovens estudantes no Rio de Janeiro(RJ), São Paulo (SP), Mogi das Cruzes (SP), Peruíbe (SP), Recife (PE), Juazeiro do Norte (CE), Belo Horizonte (MG), Goiânia (GO), Brasília (DF), Confresa (MT), Salvador (BA), Florianópolis (SC), Santa Maria (RS), Imbé (RS), Francisco Beltrão (PR), Santos (SP), Jundiaí (SP), Bragança Paulista (SP) e Socorro (SP).
Para os jovens brasileiros, a mobilização pelo clima necessita de um esforço ainda maior para se erguer, contra tantos motivos de desesperança. Afinal, ainda estamos aturdidos pela notícia do massacre em escola de Suzano (SP), há apenas 2 dias. Para além desse episódio específico, segundo reportagem da Folha de São Paulo, a taxa de homicídios de pessoas de 15 a 29 anos é o dobro da média nacional, e mais de seis vezes a taxa global de homicídios de jovens, segundo a OMS. Some-se a isso a situação da saúde e educação pública. De modo geral, pode-se afirmar que as condições da juventude no Brasil vão de mal a pior.
Questão de sobrevivência
Nesse contexto, lutar pelo clima pode até parecer um luxo. Mas não é. Porque a luta pelo clima é também uma questão de sobrevivência, para quem vai ter de continuar vivendo neste planeta pelas próximas décadas. E qualquer pessoa que esteja prestando atenção já entendeu isso – mas aparentemente não os principais tomadores de decisão, o que torna a tarefa ainda mais árdua.
Neste aspecto como em outros, o governo brasileiro atual já foi caracterizado como “vanguarda do retrocesso”. O próprio ministro do Meio-Ambiente, Ricardo Salles, considera “secundária” ou “acadêmica” a discussão sobre as mudanças climáticas. Já para o Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, as mudanças climáticas seriam uma “trama marxista”. Difícil dialogar com esse tipo de interlocutor.
Mas, como observou Eliane Brum em seu artigo sobre o movimento dos estudantes para o jornal El País, o Brasil, como o país mais biodiverso do planeta e com a maior porção da maior floresta tropical, “deveria ocupar seu lugar estratégico e se colocar na vanguarda de todos os movimentos pelo clima”. O desmatamento da floresta amazônica intensifica o problema já grave de conter as emissões e reverter o quadro a tempo de evitar consequências mais graves.
Se a gente fingir que não está acontecendo, vai ser pior. Precisamos investir em um novo modelo. Portanto, o movimento iniciado por Greta Thunberg traz voz a esse apelo tão urgente e necessário no mundo. É hora de mudar de atitude. E precisamos dos nossos jovens nessa luta. Porque os velhos não estão (se) dando conta.