Na economia compartilhada, a lógica de que você precisa ser dono de um produto para aproveitar sua utilidade é superada. O conceito de posse perde importância, já que as pessoas não têm como objetivo final adquirir ou comprar algo físico, que, com o tempo, tende a se deteriorar. Nesse modelo baseado no compartilhamento, o que vale é o serviço, ou o benefício de um produto, oferecido aos consumidores.
Exemplo que vem à cabeça com facilidade é o carro. Ao adquirir um automóvel zero quilômetro, o consumidor já perde dinheiro ao retirá-lo da concessionária. Há uma depreciação rápida, ainda que o hodômetro marque poucos quilômetros rodados. Esse é apenas o prejuízo inicial. Com o tempo, esse mesmo consumidor terá de fazer as manutenções periódicas e assumir os gastos com gasolina, IPVA, seguro, estacionamento, pedágio, enfim, gastos diversos que parecem não ter fim. Sem contar que chegará uma hora que será forçado a trocar de automóvel, pois haverá queda do desempenho, além de a tecnologia se tornar ultrapassada.
Com a ajuda das tecnologias, diversas soluções vêm sendo desenvolvidas, e o compartilhamento de produtos como o carro vem mudando o nosso estilo de vida. Aplicativos se dedicam a oferecer o serviço de chegar ao lugar desejado a um preço que caiba no bolso do consumidor. Há muitos nesse sentido, com destaque para o Uber, que chegou recentemente ao mercado brasileiro desafiando uma situação estabelecida de hegemonia do automóvel próprio.
Até mesmo a General Motors já se deu conta de que vender carros ficará para trás nas próximas décadas. A empresa entrou como sócia do serviço de transporte urbano Lyft, rival do Uber no mercado americano. Veja como isso é realmente simbólico: uma das empresas mais importantes da indústria automobilística, a mais forte e presente do modelo econômico linear, percebeu que o consumidor já não está tão interessado assim em comprar automóvel – mais do que isso: está perdendo o interesse.
A economia compartilhada colabora com a transição para a economia circular por explorar soluções anunciadas pelos principais expoentes do modelo circular. No livro “Cradle to cradle: criar e reciclar ilimitadamente”, os autores Michael Braungart e William McDonough trabalham com o conceito de produto de serviço. Ou seja, em vez de presumir que todos os produtos devem ser comprados, possuídos e eliminados, o caminho é reconcebê-los como serviços usufruídos pelas pessoas. Como sabemos, não há como falar de economia circular e Cradle to Cradle sem destacar o reaproveitamento dos materiais em novos ciclos de uso de ao menos igual qualidade. Em uma economia que privilegia o oferecimento de produtos de serviço, é mais fácil preservar e reaproveitar nutrientes técnicos para que não acabem em aterros e lixões.
Nesse modelo, produtos formados por materiais de enorme valor para a indústria, como metais nobres, não são propriedade do consumidor. Somente seu benefício é comercializado, o que significa que continuam sendo dos fabricantes. Por que um carro é útil para as pessoas? Porque ele transporta rapidamente de um lugar ao outro. Qual é a utilidade da geladeira? Serve para resfriar os alimentos. O mercado oferece então o serviço, colocando as utilidades ligadas aos produtos, e não os produtos em si, à disposição do consumidor.
Ao perceber o fim da vida útil de uma peça ou de um produto, a empresa pode e deve fazer os reparos necessários ou então optar pela retirada de circulação.
Lembre-se de que a propriedade é dela, o que contribui para o sucesso da logística envolvida na manutenção ou troca de suas partes, ou ainda na retirada de circulação. Na sequência, a empresa, no caso do produto, opta naturalmente por desmontá-lo para usar os componentes e materiais complexos existentes em sua composição – e, portanto, caros de serem obtidos – como alimento para novos produtos. Essa dinâmica é estimulada através do design circular, ou seja, por meio da preocupação com a escolha dos materiais e com a etapa de concepção do produto, pois é de interesse da empresa facilitar os processos de conserto, desmonte e reaproveitamento.
Pode haver desafios em um primeiro momento para empresas que optam por aderir à economia compartilhada ou em transformar seus produtos em produtos de serviço. Só que elas sairão na frente dos concorrentes e estarão adaptadas a uma tendência que já está se fortalecendo, o que vai significar vantagem competitiva em um futuro próximo. O consumidor torna-se cliente com uma relação ainda mais forte e duradoura com a empresa fornecedora do serviço. O cliente pode optar por adquirir novas versões do serviço a qualquer momento e quantas vezes quiser.
Para mostrar o fortalecimento dessa tendência, vale a pena olhar para o comportamento dos investidores cuja característica é levar em conta o potencial da economia circular. Nesse raciocínio, eles entendem que as empresas inseridas na economia circular calculam seus custos futuros e adaptam seus modelos de negócio para garantir o crescimento sustentado. Para o mercado, faz mais sentido escolher, por exemplo, uma empresa que tenha construído sistema de retorno no seu modelo de negócio para alimentar operações de remanufatura, em vez de optar por uma companhia que dependa exclusivamente de matérias-primas virgens.
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