Dizer que não queremos só a sustentabilidade pode parecer estranho. Nossos sistemas produtivos são atualmente tão insustentáveis, que a própria ideia de sustentabilidade é tratada como uma meta inalcançável, um ideal do qual podemos apenas nos aproximar.
Mas para muitos pensadores atuais, incluindo os proponentes da ideia de design do Berço ao Berço, a sustentabilidade é uma meta muito pouco ambiciosa para as transformações necessárias em nosso modelo produtivo. Enquanto seres humanos, animais imaginativos, precisamos de ideias que nos inspirem, nos sacudam, nos orientem – e a sustentabilidade não é dos conceitos mais inspiradores que nossa cultura já produziu.
Uma das maiores dificuldades enfrentada pelo movimento ecológico em converter empresas, governos e o público em geral à sua agenda é a ideia de que esta trará medidas restritivas e desprazerosas. Essa noção é resumida de forma abertamente pejorativa na carinhosa alcunha de “eco-chato”, atribuída aos militantes da causa por seus amigos, familiares e colegas menos propensos a se submeterem a medidas restritivas em nome do ‘meio-ambiente’.
Realmente, não é difícil confirmar que a sustentabilidade vem muitas vezes associada a estratégias austeras, restritivas e moralizantes. Toda a linguagem empregada na busca atual por sustentabilidade é, de certa forma, negativa: minimização de impactos, redução de consumo, redução de emissões, diminuição da pegada de carbono, prevenção, compensação, remediação. Essa é uma lógica contrária ao espírito empresarial, que busca crescimento, prosperidade e expansão. Enquanto a sustentabilidade for colocada em termos negativos, dificilmente ela vai servir de inspiração para ações efetivas baseadas em outros sentimentos que não o medo ou a culpa.
A partir do entendimento profundo do potencial de uma economia circular movida por processos produtivos do Berço ao Berço, pode-se desenhar sistemas a partir de uma lógica muito menos restritiva, e bem mais efetiva. Mais do que apenas sustentável, por que não imaginar uma indústria intencionalmente restaurativa? Através de uma mudança de olhar, podemos nos lançar ao desafio estimulante de re-imaginar a atividade humana/econômica gerando prosperidade, abundância e diversidade, ao mesmo tempo em que preserva e estimula a diversidade, abundância e prosperidade do planeta.
sobre a autora:
Carla Tennenbaum é formada em História e Design para Sustentabilidade e atua como designer, artesã e facilitadora criativa. Pesquisa e desenvolve tecnologias de valoração / upcycle de recursos descartados e facilita processos coletivos de inovação.
saiba mais: