A economia circular em funcionamento pode ser uma solução prática para o problema iminente de esgotamento de recursos do planeta. Aqui estão 10 fatos que você deveria saber sobre esse assunto.
1. Por que precisamos dela?
A economia circular é apontada como uma solução prática para a crescente crise de recursos do planeta. Reservas de recursos estratégicos como metais de terras raras e minerais estão diminuindo, enquanto o custo da exploração e extração de materiais está se elevando. A economia linear atual, baseada no modelo de ‘extração-manufatura-descarte’, resulta em um desperdício massivo – de acordo com o livro Rubbish!, de Richard Girling, publicado em 2005, 90% das matérias primas usadas na indústria viram lixo antes que o produto saia da fábrica, enquanto 80% dos produtos fabricados são jogados fora em até 6 meses. Essa realidade, junto a tensões crescentes quanto a questões geopolíticas e risco de suprimento, contribui para a volatilidade do preço de commodities. Uma economia circular poderia ajudar a estabilizar alguns desses fatores, divorciando o crescimento econômico do consumo de novos recursos.
2. É mais do que simplesmente reciclar
Ainda que substituir materiais primários por secundários possa oferecer uma solução parci
al, a reciclagem tem um alcance limitado, já que seus processos requerem muita energia, e geralmente desvalorizam ou reduzem a qualidade dos materiais, mantendo a demanda por matéria-prima virgem. A economia circular vai além da reciclagem, já que se baseia em um sistema industrial restaurativo e comprometido com a eliminação do resíduo no processo de design. Este gráfico da Fundação Ellen MacArthur mostra como a reciclagem é um ‘círculo externo’ da economia circular, demandando mais energia do que os ‘círculos internos’ de reparo, reuso e remanufatura. O objetivo não é apenas o design para melhor aproveitamento no fim-da-vida, mas para minimizar o uso de energia.
3. Celebridades estão comprando a causa
A noção de uma economia circular foi inaugurada nos anos 1970 pelos acadêmicos ambientalistas John T Lyle e Walter Stahel, mas realmente ‘pegou’ quando a ex-velejadora Ellen MacArthur iniciou a Fundação Ellen MacArthur em 2010 para promover esse conceito. Desde então, a fundação tem tido uma grande influência em ressoar essas ideias entre líderes governamentais, corporações globais e instituições acadêmicas. Desde então, várias celebridades endossaram a economia circular e seus princípios do berço ao berço (Cradle to Cradle/C2C). Brad Pitt é um dos fundadores do Instituto de Inovação de Produtos do Berço ao Berço (C2CPII), enquanto colegas como Arnold Schwarzenegger, Meryl Streep, Susan Sarandon e Will.i.am também apoiam a causa.
4. É um bom negócio
O argumento a favor da economia circular, do ponto de vista dos negócios, é instigante. Análise realizada pela McKinsey estima que uma mudança para um modelo circular poderia adicionar $1 trilhão para a economia global até 2025 e criar 100,000 novos empregos nos próximos cinco anos. De acordo com a Visão de Economia Circular 2020 proposta pela Waste & Resources Action Programme, a União Européia pode ter um acréscimo de 90 trilhões de libras na sua balança comercial, e criar 160,000 empregos novos. O setor industrial será possivelmente o que verá os benefícios mais rapidamente, dada sua dependência por matéria prima – a McKinsey argumenta que certos subsetores da indústria européia poderiam economizar até $630 trilhões anualmente em reduções de custo de matéria prima, até o ano de 2025.
5. Liderança Corporativa
A inovação nesse campo está sendo liderada por grandes corporação que estão testando modelos de negócios baseados em conceitos de aluguel, desempenho de produto, remanufatura, e ciclo-de-vida estendido. Essas empresas têm o poder de gerar mudanças mais rápidas, dado o alcance geográfico de suas cadeias de suprimento globais, e seus esforços devem ser acelerados com o surgimento de uma plataforma colaborativa entre grandes corporações, a Circular Economy 100. Ainda que a economia circular também inclua pequenas e médias empresas, o envolvimento desse setor atualmente é limitado. Na Europa, uma pesquisa recente com quase 300 pequenos negócios da Inglaterra, França e Bélgica demonstrou que quase 50% não conheciam o conceito.
6. Intervenção governamental
A ampliação internacional da economia circular provavelmente precisará de apoio governamental. Uma abordagem coordenada de líderes mundiais seria muito bem-vinda para introduzir motivações legislativas positivas como metas de redução de lixo e incentivos para o eco-design na promoção de produtos que sejam mais fáceis de reutilizar, remanufaturar e desmontar. Alguns países já iniciaram esse processo – a China fundou o CACE, uma associação apoiada pelo governo para encorajar o crescimento circular, enquanto a Escócia lançou seu próprio plano de economia circular. Um movimento muito significativo se desenha a partir das discussões da Comissão Europeia em torno de uma estratégia de economia circular, que deve introduzir metas mais altas para a reciclagem e cessão do descarte de materiais recicláveis em aterros para todos os 28 países membros da União Europeia.
7. Vai mudar nossa forma de consumir
Nossa relação com os produtos e serviços que compramos poderia ser radicalizada em um economia circular. E se não comprássemos os bens que usamos, mas favorecêssemos acesso e desempenho no lugar da propriedade? O pagamento por uso (“pay per use”) associado a contratos de telefones celulares poderia ser estendido a bens como máquinas de lavar, roupas e ferramentas. Philips, Kingfisher Group e Mud Jeans já estão testando modelos de produtos-como-serviço, que nos tornariam usuários ao invés de consumidores. Essa mudança não apenas permitiria às empresas manter a propriedade de produtos para facilitar o reparo, reuso e remanufatura, mas também poderia resultar em responsabilidades compartilhadas entre produtores e usuários como parte do contrato de compra.
8. Novas habilidades, por favor
A transição para uma economia circular será complexa, já que ela requer o redesign de sistemas e gera uma necessidade premente de novas habilidades, não apenas no campo da ciência, tecnologia, engenharia e matemática, mas também através de disciplinas criativas como design, publicidade, e tecnologia digital. Em um nível conceitual, o pensamento sistêmico deve vir a auxiliar na construção teórica e guiar a mudança de comportamento necessária. Em um nível mais prático, programas educacionais com universidades e escolas secundárias têm sido empreendidos por várias organizações, como a Fundação Ellen MacArthur e a Circular Economy Australia.
9. Tecnologias disruptivas
Um dos principais elementos facilitadores da economia circular será a inovação disruptiva – em que o design e a tecnologia de ponta vão gerar novos modelos circulares de comércio, criando novos mercados e também deslocando os existentes. As empresas que estão liderando essa agenda perceberam que ou elas interrompem seus próprios modelos a partir de políticas internas, ou serão interrompidas por forças externas. Questões estão sendo levantadas sobre propriedade intelectual, acordos de (não?)divulgação e leis de concorrência para empresas que colaboram para co-criar novas soluções. A vantagem de antecipação pode ter um preço alto, e o risco percebido se torna uma pedra no caminho.
10. O Reino Unido já é 19% circular
Uma análise de fluxo de materiais conduzida em 2010 pelo Waste & Resources Action Programme (WRAP – Programa de Ação de Resíduos e Recursos) estimou que um quinto (em peso) da economia do Reino Unido já opera de forma circular. Os 19% se referem ao peso de materiais (600 milhões de toneladas) entrando na economia comparado à quantidade de material reciclado (115 milhões de toneladas). Projeções futuras realizadas pelo WRAP apontam que esse número poderia chegar a quase 27% em 2020, se 137 milhões de toneladas forem recicladas de uma entrada de material menos direta de 510 milhões de toneladas.
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Sobre a autora:
Maxine Perella é uma jornalista ambiental especializada na agenda de Lixo Zero e economia circular. Seu twitter é @greendipped.
Texto originalmente publicado na seção de Economia Circular do jornal The Guardian, patrocinada pela Philips.
Traduzido por Carla Tennenbaum
Autoria: Maxine Perella